“A distinção entre países civilizados e não civilizados é a distinção entre os lugares onde se bebe e aqueles onde não se bebe”, diz o filósofo inglês Roger Scruton.
A utor de mais de 30 livros de ensaio, o pensador britânico de pendor conservador assinou, entre 2001 e 2009, uma coluna sobre vinhos na revista New Statesman, coluna essa que serviu de material para a obra em questão, descrita por Scruton como um guia não para a fruição da bebida mas sim para pensá-la. Recheado de referências a grandes filósofos, como Berkeley, Nietzsche, Russell e a atitude deles perante o vinho, o livro ataca a obsessão pelas regulamentações económicas centralizadoras da Europa. Embora alguns trechos iniciais possam assustar o leitor, como, por exemplo “Sem a ajuda da bebida vemo-nos uns aos outros tais como somos, e nenhuma sociedade humana pode ser construída sobre uma base tão frágil.”, a lucidez do autor predomina. Scruton acha “inútil tentar descrever o sabor de muitos vinhos” pois os seus efeitos no nariz, na língua e no palato não podem ser expressos em palavras… e quase que despreza o novo hábito, tão defendido pelos críticos americanos como Robert Parker, de atribuir pontos a cada garrafa como se fosse uma corrida a vencer. Quase que quer dizer que atribuir pontos a um “Barca Velha” é o “mesmo que atribuir pontos a sinfonias – como se a sétima de Beethoven, a sexta de Tchaikovsky, a número 39 de Mozart e a oitava de Bruckner estivessem todas pairando entre o 90 e o 95.”
Algo que parece incomodar o autor consiste na posição muçulmana quanto à proibição do álcool. Ele aborda o tema em diferentes capítulos, defendendo sempre que essa interpretação do Alcorão estará incorreta. Voltando aos filósofos: o livro possui um apêndice, no mínimo, curioso. Filósofos como Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e Descartes, para além dos antes citados, recebem uma análise – uma mais aprofundadas do que outras – dos seus pensamentos e qual seria o vinho adequado para “harmonizar” com a leitura dos textos de cada um. E Scruton deixa as suas opiniões bem claras: enquanto sugere Vino Nobile de Montepulciano para Tomás de Aquino, “água de alcatrão” é a pedida para acompanhar Berkeley. Isto talvez porque, durante a fome e a epidemia de peste que ocorreram entre 1737 e 1741, Berkeley devotou-se aos doentes, tentando curá-los com água de alcatrão.
Por Manuel Machado
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. This category only includes cookies that ensures basic functionalities and security features of the website. These cookies do not store any personal information.
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.